29.9.15

FRAGMENTOS

Escritor - homem casado?
Sempre escritor-de-domingo.
Não tem o momento azado,
sua arte é pingo a pingo.

Alexandre O'Neill

ANOS 70 poemas dispersos, Assírio & Alvim, Lisboa, Outubro 2005

17.9.15

Debate

Não sei quem ganhou,
mas perco com ambos:
nenhum condenou,
olhando os escambos,
tratados, desgraças,
ferozes matilhas,
as graves trapaças
e as moscambilhas.

Dizer quem ganhou,
não vale uma aposta.
Mas sei quem ficou
a arder e não gosta
do muito que sói
dizer-se que dói.

© Domingos da Mota


14.5.15

RADAR

    (É um blog de poesia?
     Pois também o lê a CIA...)

     Luís Filipe Castro Mendes


A CIA lê e relê
o que pode e o que não pode,
sobretudo se treslê
o que vê nalgum blogue.

Se ao Tim Tim no Tibet
segue os passos, na penumbra,
para ver se o compromete
de mãos dadas com a sombra

de um oximoro exótico
que não saiba decifrar
através do nervo óptico,

do olho do seu radar,
fica com ar psicótico,
mas mantém-se a espiolhar.

© Domingos da Mota

[inédito,
a partir da leitura do poema PUBLICIDADE, de Luís Filipe Castro Mendes, na sua página do Facebook]

6.3.15

Até ver

Homem humilde, quiçá
mais humilde que os humílimos
e tão humilde, sei lá,
que se torna dificílimo

encontrar entre os mortais
outro tão humilde assim
nas relações sociais
e dignas desse latim,

pois o homem lá se arroga,
na sua grande humildade,
ser o exemplo, a prova
de sem igual probidade,

pois igual, só quem nascer
duas vezes, até ver


Domingos da Mota



1.3.15

MÁ CONSCIÊNCIA

O adjectivo 
dá-me de comer.
Se não fora ele
o que houvera de ser?

Vivo de acrescentar às coisas
o que elas não são.
Mas é por cálculo,
não por ilusão.

Alexandre O'Neill

DE OMBRO NA OMBREIRA, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Setembro de 1969

10.2.15

DA VIOLÊNCIA

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.

Bertolt Brecht

Poemas, Tradução (com a colaboração de Sylvie Deswarte), Selecção, Estudos e Notas de Arnaldo Saraiva, Editorial Presença, Lisboa

8.1.15