19.10.14

Soneto pós-50, com estrambotes

Sobre o sexo, sobre a foda,
o acórdão sacramenta:
que se dane, que se foda
quem depois dos cinquenta

use e abuse da foda,
ponha a foda na ementa.
Assim julgam meritíssimos
do alto do seu juízo

atinente e lucidíssimo

sobre o vigor que é preciso
para uma foda a valer.

E após os cinquenta,
o pitéu, esse presigo,
essa coisa de foder

é um risco, é um perigo
bem pior que aparenta.

Quanto ao trânsito em julgado:
será coda?, será fado?

© Domingos da Mota


17.10.14

Pero adeus, ai Deus e u é

Pero Passos, passarão,
ergue a crista no poleiro,
um tudo-nada capão
no papel de timoneiro,
com a pose de tenor
e o bico recurvado,

impassível despudor,
obsceno arrazoado
por demais constrangedor,
pois bastante enviesado
sob o manto de rigor,
Pero tão despassarado.

Pero Passos passarinha
como um galo empertigado,
um tudo-nada, nadinha
convincente sobre o estado
que posterga da vidinha,
das andanças do passado.

Pero adeus, ai Deus e u é,
quanto antes vá ciscar
para longe do meu pé,
muito longe do lugar
por onde faz finca-pé 
de sem dó pisotear.

© Domingos da Mota


13.10.14

Pragmatismo

Mudar conceitos a torto
e a direito, a bel-prazer;

mais a torto que a direito,
de maneira a condizer

com o valor dos preceitos
que tiver de distorcer.


© Domingos da Mota