20.2.11

Mudança

O Inverno não dura sempre
névoa da nossa desilusão
Desce à terra nuvem que vogas
sobre a aridez da mentira
mil metros acima do chão
Abre-te ao nosso desejo
deixa florir tua água de mudança
nesta cidade em que tudo está à venda
e se pisam os dedos do mais fraco
e a sua dor
Trago na ponta da língua a indignação
e na mala a tiracolo uma carta
sem verdades seguras mas com esperança
num outro Abril
com plantas de luz
para ficarem

                                                                      2006

Urbano Tavares Rodrigues

Horas de Vidro, [Poemas do Novo Século], Publicações Dom Quixote, Lda., Lisboa, Fevereiro de 2011

9.2.11

ENFIM

Essa cara cor de beco sem saída,
sorriso de apagar quarenta velas,
o nariz em agonia - não te canses.
A justiça, o remoinho da beleza,
a liberdade são paixões impopulares,
desaprovadas pela gorda humanidade.

Já sabias. Não te queixes. Colhe as favas,
as medonhas, do momento. Podes sempre
cozinhá-las com temperos escolhidos.
Sabe a pouco? Paciência. Satisfaz-te
com a fome e compreende: o proveito
do banquete é estudar os comensais.

José Miguel Silva

Erros Individuais, Relógio D'Água Editores, Lisboa, Novembro de 2010