8.8.11

Han Shan [Tradução de António Graça Abreu]

86

O usurário empilhando riqueza
tal como a coruja alimentando as crias.
As crias crescem e devoram a mãe,
muitos bens acabam por engolir quem os tem.
Distribuídos em redor, crescem as bênçãos,
aferrolhados em casa, sobrevêm calamidades.
Não há bens, não há calamidades,
melhor agitar as asas azuis nas nuvens.

Han Shan

Di Versos - Poesia e Tradução: N.º 15 - Junho de 2009

3.8.11

UM FIO SOLTO

                             para o Jorge Roque


Encontrá-lo aí mesmo, como se
pendurado no vazio. Desenredá-lo levemente
e puxar, procurando aquele ponto de tensão
sem, no entanto, o encontrar. Puxar mais e
mais, fervorosamente. Daí a nada
mais parece que é o fio que te puxa a ti.
E puxa, horrorizando-te, enquanto
imaginas que costura do teu mundo
agora se descose.

Diogo Vaz Pinto

NERVO, Averno, 2011