23.11.13

Aula Magna

Nunca é demais
(se por menos
tocam sinos a rebate
por motivos
de somenos
comparados com o ataque)

resistir
romper a teia
combater a urdidura
do medo
que arroteia
a trama da ditadura

© Domingos da Mota


18.11.13

Esplanada

Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

Manuel António Pina

POESIA, SAUDADE DA PROSA uma antologia pessoal, Assírio & Alvim, Lisboa, Maio 2011