29.11.11

20.11.11

Poema das Sete Faces


com a devida vénia, um poema de Carlos Drummond de Andrade, dito por Paulo Autran.

15.11.11

Quem Bate a uma Porta de Folhas na Noite





com a devida vénia, um poema de António Ramos Rosa, dito por Mário Viegas.

7.11.11

JARDIM ZOOLÓGICO

Apenas a alegria das crianças
o purifica de tanto mal.

António Osório

Planetário e Zoo dos Homens, Editorial Presença, Lisboa, 1990

3.11.11

OS OVOS D'OIRO

1


Comei os ovos.
A galinha vive.
Passeia em bibliotecas
e tasquinha
junto aos muros
de Tebas.
Galinha grega.
Arredondando os ovos
sobre o mar.
Sorvendo pelo bico
as gotas gregas.

Talassiana.

Pelo cu desta galinha
sai um ovo.
E sai a caca.

Ave pesada de mais
para Aristófanes.
Encheu o papo
com milho de Aristóteles.
Os seus ovos são d'oiro.

Com as asas castigadas
sobe aos deuses.
Perímetra
glutona
empoleirada nos restos
de colunas
que as turistas beijam
e o cão do tempo mija.

Os homens de camisas claras
estendem sob o sol
as palmas ressequidas:
mais um ovo.

Os homens indispostos
caminham para trás
pisam os séculos
procuram nos quintais
do tempo
nos poleiros
da história
a passagem trôpega
da galinha grega.

Uma galinha ausente
que dava pios d'alma
bicava nos arquétipos
e quando punha um ovo
ouvia-se em toda a Renascença.

Não sabemos porquê
galinha escrita
pequeno corpo
pondo em alvoroço
os fregueses dos mitos
não sabemos porquê
tu ainda chocas
ou dormes no regaço
de Montaigne.

Imensos velhos
d'óculos
que cuidam d'aviários
perseguem toda a casta
de animais
apuram raças novas
para voltarem a ti
galinha grega.

Cisca a galinha
em torno
das estátuas
eterna vamp
do mundo arqueológico.

Aphroditíssima.

O bico
uma batuta
para o seu silêncio.
O gládio
suspenso
de uma antiga ânfora.

Enxotada entre guerras
e alianças.
Disseminando penas
largando por descuido
um ovo em cada voo.

Galinha grega.


2


Áurea galinha
com sua crista em chamas
deixando estigmas
na poeira dos crentes.

Galinha empoleirada
nos profetas.
Criada pelos nobres
nos vastos e vetustos
vestíbulos da morte.

Galinha mais que d'ovos
feita d'oiro.
Alimentada a pérolas.
Cardíaca.
Polida. Quieta.
Aristocrata.

Quem te colou no bico
o teu latim?
A tua servidão
no choco?
Quem te abriu
ao meio
e te adorou?


3


Quem perdoou a esta galinha
os seus arroubos?
As suas gagas soluções
de circunstância?

De grão em grão
haveis colheita
papo bancário
e ovos platinados.

Dá pulos oceânicos
o bípede loquaz
pondo ovos
catastróficos
e levando no bico
o raminho
metálico
da paz.

Quem perdoou
a estas naves
nada galináceas
a estes ovos
blondos
da galinha gringa?

Armando da Silva Carvalho

OS OVOS D'OIRO, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Setembro de 1969