no meio de tanta incerteza. "é a prosa da
vida que faz falta a muita gente". sentença de escritor.
roubam-te a esperança. o fundo olhar da paixão.
chegam-se a ti com
um fósforo. e querem levar
tudo. a troco de um esgar. cotado em bolsa.
querem vampirizar o ar que
respiras. cuida. meu amor. cuida da prosa.
do vagaroso espreguiçar da palavra. leva-a.
no cesto da fruta. antes
que apodreça na casca endividada.
querem que os teus olhos. calem. as fogueiras. a alegria.
o sol. que te
venderam. como só teu. e agora. cobram juros.
porque existe. porque sim. é preciso cortar em tudo. dizem.
porque o
sol também é um assalariado.
e a luz que lhe assiste. (à excepção dos senhores
que lhe sugaram a
energia. toda. renovável). tem custos.
umas manhãs às escuras. ou. uns poentes apagados.
consolidam as finanças.
sabes amor. estamos na boca da turbina. de assépticos.
predadores. cuida amor.
guarda a palavra. semeia-a no ventre. inventa-a.
na dança silenciosa
dos teus lábios.
a palavra. em prosa serena. que ainda.
não paga IVA. se já te arrancaram o fôlego.
para pagar os juros da
dívida. salva. a imaginação que (ainda) não é tributada.
Alberto Serra
morrer de vagar, Edição Temas Originais, Lda., Coimbra, 2012
«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.» Livro dos Conselhos, El-Rei D. Duarte
26.8.12
23.8.12
NOVA
grita
de modo
a
retirares
de
cada
sopro
uma semente.
João Silveira
Agio, Revista de Literatura, Fevereiro 2011, Edição Artefacto, Lisboa
de modo
a
retirares
de
cada
sopro
uma semente.
João Silveira
Agio, Revista de Literatura, Fevereiro 2011, Edição Artefacto, Lisboa
18.8.12
O MORTO: SUA ASTRONOMIA
A astronomia do morto é um grito
sem resposta. Necessita de um computador
que lhe diga como descer da constelação:
alfabetos escadas da dor. Os olhos entendem sem ouvir
as suas equações do movimento: cinemáticas!
Quanto a mim bastava-lhe a tristeza: peso
cadente das estrelas e os hieroglifos eternos
das esquinas da história e da histeria.
Rancor enxertado por decretos e votos e hinos.
É terrível ser homem moribundo. A morte
levanta a sua constelação para que eu morra.
Nem há mesmo outra astronomia.
Alexandre Pinheiro Torres
A Flor Evaporada, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1984
sem resposta. Necessita de um computador
que lhe diga como descer da constelação:
alfabetos escadas da dor. Os olhos entendem sem ouvir
as suas equações do movimento: cinemáticas!
Quanto a mim bastava-lhe a tristeza: peso
cadente das estrelas e os hieroglifos eternos
das esquinas da história e da histeria.
Rancor enxertado por decretos e votos e hinos.
É terrível ser homem moribundo. A morte
levanta a sua constelação para que eu morra.
Nem há mesmo outra astronomia.
Alexandre Pinheiro Torres
A Flor Evaporada, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1984
15.8.12
[A mentira que fingem]
A mentira que fingem
é verdade.
A submissão
corrompe. Não nasceram
ainda.
Poderão nascer
mais tarde
tão adultos de aspecto?
Egito Gonçalves
O FÓSFORO NA PALHA, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Abril de 1970
é verdade.
A submissão
corrompe. Não nasceram
ainda.
Poderão nascer
mais tarde
tão adultos de aspecto?
Egito Gonçalves
O FÓSFORO NA PALHA, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Abril de 1970
14.8.12
O ENFORCADO
No gesto suspensivo de um sobreiro,
o enforcado.
Badalo que ninguém ouve,
espantalho que ninguém vê,
suas botas recusam o chão que o rejeitou.
Dele sobra o cajado.
Alexandre O'Neill
POESIAS COMPLETAS, Assírio & Alvim, 5.ª Edição, Lisboa, Maio de 2007
o enforcado.
Badalo que ninguém ouve,
espantalho que ninguém vê,
suas botas recusam o chão que o rejeitou.
Dele sobra o cajado.
Alexandre O'Neill
POESIAS COMPLETAS, Assírio & Alvim, 5.ª Edição, Lisboa, Maio de 2007
12.8.12
o só
Na longa alameda a luz aos pedaços cai
mole do alto dos postes. Ele olha.
Para que não doa, apenas olha.
E não dói.
Eucanaã Ferraz
Cinemateca, Quasi Edições, Fevereiro de 2009
mole do alto dos postes. Ele olha.
Para que não doa, apenas olha.
E não dói.
Eucanaã Ferraz
Cinemateca, Quasi Edições, Fevereiro de 2009
11.8.12
BILHETE-POSTAL NEGRO
I
Calendário repleto de compromissos, futuro incerto.
O rádio trauteia uma canção popular sem nacionalidade.
Cai neve no mar totalmente gelado. Vultos
acotovelam-se no cais.
II
Acontece, a meio da vida, a morte bater-nos à porta
e tomar-nos as medidas. Essa visita é esquecida,
e a vida continua. O fato, porém, esse
é cosido em silêncio.
Tomas Tranströmer
50 Poemas, Tradução de Alexandre Pastor, Relógio D'Água Editores, Lisboa, julho de 2012
Calendário repleto de compromissos, futuro incerto.
O rádio trauteia uma canção popular sem nacionalidade.
Cai neve no mar totalmente gelado. Vultos
acotovelam-se no cais.
II
Acontece, a meio da vida, a morte bater-nos à porta
e tomar-nos as medidas. Essa visita é esquecida,
e a vida continua. O fato, porém, esse
é cosido em silêncio.
Tomas Tranströmer
50 Poemas, Tradução de Alexandre Pastor, Relógio D'Água Editores, Lisboa, julho de 2012
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