9.8.13

Nocturno

Ver-te-ei por ventura de novo
subitamente
ao pé daquela fonte
onde os pardais e os ganhões se juntavam
no fim da jorna
e as brancas pombas vinham bicar
grãos de luz
sob a exaustão do dia
e havia franças de árvores a adormecerem
na agonia da esperança?
Não nunca mais verei o verde
dos teus olhos essa ternura arisca
Quando te perdi comecei
a atravessar o ácido rio do silêncio
Depois essa dor encolheu
como todas as coisas
No reflector que há dentro de mim
capto agora a imagem insólita
da lua e vejo a respiração dos poços
à volta da vila sonhando
a muda tristeza das suas muralhas
Anoiteço sem lágrimas 
e continuo a sofrer sem saber já exactamente
se sofro por ti que partiste
ou por esta despedida de mim

                                                                                          2008
Urbano Tavares Rodrigues

Horas de Vidro, [Poemas do Novo Século], Publicações Dom Quixote,  Lda., Lisboa, Fevereiro de 2011

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