Limbo
Pescadores em Ballyshannon
Apanharam esta noite uma criança
Na rede, juntamente com o salmão.
Uma desova ilegítima,
Pequeno ser devolvido
Às águas. Mas estou certo
Que quando ela, nos baixios,
O mergulhou ternamente
Até os nós gelados dos dedos
Estavam mortos como os seixos,
Ele era um isco com anzóis
A rasgá-la por dentro.
Ela entrou na água sob
O sinal da sua cruz.
Ele veio na rede com o peixe.
Agora o limbo será
Um frio reluzir de almas
Numa região distante e salgada.
Mesmo as palmas de Cristo, por sarar,
Doem e não conseguem pescar lá.
Seamus Heaney
DA TERRA À LUZ poemas 1966 - 1987, Tradução, prefácio e notas de Rui Carvalho Homem, Relógio D'Água Editores, Janeiro de 1997
Sem comentários:
Enviar um comentário