31.8.09

Buraco negro

Jaz o poeta no caixão vazio
(foi morto por Caim sem ser Abel)
e sente à sua volta um corrupio
de vultos a carpir num aranzel

e a dizer os seus versos que não leram
(e até os poemas que não fez)
e ouve mesmo alguns que o tresleram
citá-lo entre aspas desta vez

Jaz o poeta no buraco negro
da memória perdida, a destempo,
e caído no fundo desse pego
no meio do lençol do esquecimento

o que sobra por fim desata o nó
da espessura do tempo: e fica em pó


© Domingos da Mota