13.9.13

A DEFESA DO POETA

Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.

     Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de 
tenebrosa memória, o que não fiz a pedido do meu advogado que
sensatamente me advertiu  de  que  essa  minha insólita leitura no
decorrer do julgamento comprometeria a defesa, agravando a sen-
tença.

Natália Correia

Antologia Poética,  [A Mosca Iluminada], Prefácio de Fernando Pinto do Amaral, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 2002 

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