Porque o poema é sempre contra o vómito.
Porque o poema é sempre, SOBRETUDO,
contra engolir o vómito.
Vasco Gato
Uma fossa, uma latrina,
um esgoto repugnante,
um rato que congemina
ser o Inferno de Dante;
um caga-raiva mais sujo,
mais empestado que as fezes,
mais reles que um sabujo,
mais desprezível, mil vezes,
a vomitar o seu ódio
com insultos viscerais,
um verme que busca o pódio
entre vírus e demais
bactérias resistentes,
a julgar-se um Tiradentes.
© Domingos da Mota
«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.» Livro dos Conselhos, El-Rei D. Duarte
27.9.13
23.9.13
António Ramos Rosa (1924-2013)
POEMA
As palavras mais nuas
as mais tristes.
As palavras mais pobres
as que vejo
sangrando na sombra e nos meus olhos.
Que alegria elas sonham, que outro dia,
para que rostos brilham?
Procurei sempre um lugar
onde não respondessem,
onde as bocas falassem num murmúrio
quase feliz,
as palavras nuas que o silêncio veste.
Se reunissem
para uma alegria nova,
que o pequenino corpo
de miséria
respirasse ao ar livre,
a multidão dos pássaros escondidos,
a densidade das folhas, o silêncio
e um céu azul e fresco.
António Ramos Rosa
O GRITO CLARO (selecção de poemas), [Segunda Parte], Colecção «A Palavra», n.º 1 Faro - 1958
As palavras mais nuas
as mais tristes.
As palavras mais pobres
as que vejo
sangrando na sombra e nos meus olhos.
Que alegria elas sonham, que outro dia,
para que rostos brilham?
Procurei sempre um lugar
onde não respondessem,
onde as bocas falassem num murmúrio
quase feliz,
as palavras nuas que o silêncio veste.
Se reunissem
para uma alegria nova,
que o pequenino corpo
de miséria
respirasse ao ar livre,
a multidão dos pássaros escondidos,
a densidade das folhas, o silêncio
e um céu azul e fresco.
António Ramos Rosa
O GRITO CLARO (selecção de poemas), [Segunda Parte], Colecção «A Palavra», n.º 1 Faro - 1958
19.9.13
Herberto Helder : Um quarto dos poemas é imitação literária
com a devida vénia, um poema do livro Servidões, de Herberto Helder,
dito por Fernando Alves
14.9.13
13.9.13
A DEFESA DO POETA
Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de
tenebrosa memória, o que não fiz a pedido do meu advogado que
sensatamente me advertiu de que essa minha insólita leitura no
decorrer do julgamento comprometeria a defesa, agravando a sen-
tença.
Natália Correia
Antologia Poética, [A Mosca Iluminada], Prefácio de Fernando Pinto do Amaral, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 2002
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de
tenebrosa memória, o que não fiz a pedido do meu advogado que
sensatamente me advertiu de que essa minha insólita leitura no
decorrer do julgamento comprometeria a defesa, agravando a sen-
tença.
Natália Correia
Antologia Poética, [A Mosca Iluminada], Prefácio de Fernando Pinto do Amaral, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 2002
1.9.13
EPITÁFIO DE UM TIRANO
Uma certa perfeição era o que ele procurava,
A poesia que inventava era de fácil compreensão;
Conhecia a loucura humana como as costas da mão,
Exércitos e esquadras eram coisas muito suas;
Quando ria, os senadores riam às gargalhadas,
E quando gritava, as crianças morriam nas ruas
W. H. Auden
Antologia de Poesia Anglo-Americana De Chaucer a Dylan Thomas, Selecção, tradução, prefácio e notas de António Simões, Campo das Letras, Editores, S. A., Outubro de 2002
A poesia que inventava era de fácil compreensão;
Conhecia a loucura humana como as costas da mão,
Exércitos e esquadras eram coisas muito suas;
Quando ria, os senadores riam às gargalhadas,
E quando gritava, as crianças morriam nas ruas
W. H. Auden
Antologia de Poesia Anglo-Americana De Chaucer a Dylan Thomas, Selecção, tradução, prefácio e notas de António Simões, Campo das Letras, Editores, S. A., Outubro de 2002
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