MANIFESTO ANTI-DDT
Em prol
do sacrossanto deus do Mercado,
do capitalismo galopante,
da Trilateral
dos clubes de Bilderberg e de Davos,
do G7 ao G80,
dos eixos do Bem e do Mal,
dos monopólios, das multinacionais,
dos eixos do Bem e do Mal,
dos monopólios, das multinacionais,
das alterações climáticas, do aquecimento global,
dos tufões, ciclones, cataclismos, terramotos, maremotos,
da fome,
da fome,
da barbárie e de todas as guerras
intestinas, cibernéticas e reais:
(santas, civis, preventivas, de conquista, de ocupação,
de genocídio),
dos fluxos financeiros, dos offshores,
do petróleo, da energia nuclear, pobre ou enriquecida,
das energias sujas, limpas e renováveis,
dos recursos aquáticos, marinhos, terrestres, aéreos
e extra-terrestres,
em suma,
da Globalização
e, máxime, dos lucros obscenos,
as potências europeias e mundiais e os seus aliados,
as potências europeias e mundiais e os seus aliados,
de geometria variável,
(santidades, patriarcas, imperadores, reis, príncipes,
sereníssimas majestades e altezas,
aristocratas de puro-sangue azul e de sangue assim-assim,
duques, marqueses, condes, viscondes, barões, marajás, sultões, mandarins, vizires, plutocratas, oligarcas, usurários,
banqueiros, especuladores financeiros, comendadores,
latifundiários, terras-tenentes, nababos, capitães da indústria,
cabos-de-guerra, cardeais, arcebispos, bispos,
abades e abadessas, cónegos. pastores, vigários, priores,
eminências, reverências, excelências, senhorias,
luminárias, eminências pardas e outras sumidades
e suas excrescências,
e mesmo,
à revelia
dos Povos e das Nações,
presidentes,
parlamentos, governos,
congressistas, governadores,
eurocratas, comissários, deputados, embaixadores,
ministros plenipotenciários, etc.,
proclamam),
no alto da sua de jure potência
urbi et orbi,
de direito e de facto,
a partir daqui e de agora
(deste fatídico mês do Solstício de Verão
do ano bissexto de 2008, d.C.,
mês da Pedra no Sapato,
do Grão de Areia
na engrenagem dos Supremos Interesses):
dada a consabida
Douta Ignorância
dos povos em geral, e do povo em particular
que teve a ousadia, cometeu
a soberana heresia de,
em referendo,
afirmar um rotundo Não
ao preclaro e subido
Tratado de Lisboa
que,
mais do que um Tratado, é um hino à diplomacia,
à sabedoria, à filosofia, à lógica, aos silogismos
categóricos, aos axiomas,
à teoria política,
à meridiana clareza
(palavra por palavra, vírgula por vírgula, ponto
por ponto, frase por frase,
com cláusulas, objecções, remissões, excepções,
denegações e outras dejecções),
no fundo,
uma sinfonia plena
de fugas, fugato, adagio, allegro con brio, largo-vivace,
andante con moto, finale: presto,
porreiro, pá!,
uma quase hierofania,
as Tábuas da Lei, das Normas, das Regras,
e decretam
(não vá
o diabo voltar a tecê-las):
a proibição, o fim, a rasura, a anulação
de sondagens de opinião, de referendos
e de eleições gerais
em todos os países.
Obrigam-se,
hic et nunc,
os Altos Dirigentes dos arcos do Poder,
sentados à Mesa do Orçamento
dos Supremos Interesses
(lordes e comuns, talassas e republicanos de botas-de-elástico,
democratas de cor de burro quando foge,
socialistas da boca para fora, trabalhistas
da centésima vaga, socialistas à tripa forra,
sociais-democratas, mutatis mutandis,
populistas puros e duros, neo-liberais,
hiper-liberais, conservadores, democratas-cristãos
com presunção e água benta,
de não há cristão que aguente, velhos
e novos fascistas, nazis e quejandos),
a expurgar as
suas Constituições
de todos os direitos, liberdades e garantias.
A partir
daqui e de agora:
se qualquer Povo sair do Redil,
por rebeldia
ou por ignara sabedoria
(e assim ameaçar,
com um grão de areia que seja,
a roda inexorável dos Sumos Interesses),
à revelia
desta Norma imperativa,
assumirão
os Seus Altos Dirigentes, perante Nós
e perante a História,
o ónus de, sem apelo nem agravo,
Dissolver o povo
E eleger outro.
Em nome
da tradição judaico-cristã, se o povo eleito,
contaminado pelo espírito do lugar,
vier também a rebelar-se contra qualquer dos
Superiores Ditames,
volta-se a dissolver o povo, deixa-se o lugar em pousio,
e ponto final,
parágrafo.
*
Mais se
decreta,
de forma impositiva o Fim da História,
da rosa-dos-ventos, das ideologias, das utopias,
da direita e da esquerda
(e todos ao molho e fé em Deus),
mas, sobretudo,
o fim
da luta de classes
que,
pragmaticamente, passarão a ser
duas,
e somente
duas:
a de Cima,
e a de baixo,
com quotas imutáveis:
0,001%, para a classe de Cima,
e 99,999%, para a classe de baixo.
(Nos interstícios entre ambas as classes sociais,
poderá manter-se, com prazo a termo certo,
uma subclasse, do tipo limbo ou purgatório,
nem carne nem peixe, entre o céu e o inferno,
onde cabem os testas-de-ferro,
tiranetes, mandatários, validos e valetes, assessores,
consultores, burocratas, fazedores de opinião, comentadores,
louvaminheiros, lambe-botas, sicofantas,
puxas-sacos, paus-mandados,
cães de fila e de guarda e de caça e de guerra
e sicários, capatazes, feitores, maiorais,
apoderados e outros que tais).
Em nome
da Riqueza das Nações,
do PIB,
do crescimento económico, do défice,
do choque tecnológico,
da coesão social, da justiça redistributiva,
da pós-moderna governança dos Estados,
na senda imparável do progresso sustentado
(às arrecuas),
aprofunda-se e alarga-se a douta directiva
do Conselho de Ministros
do Emprego e Assuntos Sociais da União Europeia,
que propõe que se eleve
de 48 para 60 ou 65 horas (ou mais),
o limite de semana laboral,
e
decreta-se
a revogação
do Calendário Gregoriano.
*
A partir daqui e de agora,
e até ao fim do Mundo,
os dias passam a ter 25 horas; os meses, 33 dias;
os anos, 13 meses; e todos os anos serão bissextos.
Todos os trabalhadores
passarão a ser submetidos a trabalhos forçados.
O horário de trabalho universal
passará a ser de 25 horas por dia
(com três intervalos de 10 minutos cada,
para o mata-bicho,
o jantar e a ceia).
Em prol dos elevados índices de produtividade,
deverá conceder-se uma única pausa diária
de 60 segundos, para as necessidades fisiológicas.
(As grávidas, e outros trabalhadores,
com incontinência urinária ou fecal,
devidamente comprovadas,
poderão dividir o longo tempo de 60 segundos
por 3 vezes/dia.
O descanso diário obrigatório passará a ser
na vigésima quinta hora.
Em situações de graves dificuldades económicas
ou de necessidade Superior do Mercado
o capataz de turno poderá coagir o trabalhador
a renunciar ao tempo de descanso obrigatório,
a troco de pagamento de uma hora extraordinária,
em espécie, que deverá ser, a título de exemplo,
uma medalha de cortiça
(a creditar na carteira de acções
do seu Banco de Horas).
De acordo com as boas práticas da civilização judaico-cristã,
e se a norma não afectar
os Superiores Interesses do Mercado,
o descanso semanal continuará a ser
ao sétimo dia
(com os ajustes necessários para quem professe
outra crença ou religião).
Excluem-se
do descanso semanal os trabalhadores, sobretudo
agnósticos e ateus.
Acabam todos os dias de férias, feriados e faltas.
Em louvor
do Sacrossanto Deus do Mercado,
e em nome dos Nossos Altissonantes e Supremos
Umbigos,
convoca-se um Concílio Eclético
de todos os povos, nações, tribos
e religiões, mono e politeístas,
com os seus eminentes sábios, sacerdotes, teocratas,
patriarcas, budas, jeovás, heresiarcas,
xamãs, orixás, mães, pais, filhas e filhos-de-santo,
candomblés, e de outras fontes e terreiros;
e de todos os calendários
(hindus, hebraico, chinês, ab urbe condita,
rúnico, islâmico e persa),
para as emergentes sincronias e diacronias
com este imperioso
Choque de Civilização.
Em cumprimento
das novíssimas Regras imperativas,
e sob pena de acusação agravada de enriquecimento sem causa,
todos os trabalhadores detentores do capital-trabalho,
terão de colocar os seus Bancos de Horas
na Bolsa de Valores dos Objectos Descartáveis
para cotação, e taxação fiscal de mais-valias e dos lucros
acumulados
(em caso de compra, venda, fusão,
OPA hostil ou despedimento).
Se,
por razões imponderáveis do Mercado,
como ganância, usura, roubo flagrante,
desregulação,
qualquer das grandes empresas cotadas
nas Bolsas de Valores
entrar em falência,
obrigam-se
os Estados
a capitalizar e solver a massa falida, com a distribuição
dos encargos por todos os contribuintes.
A idade de reforma passará a ser aos 88 anos.
Os governos,
após Cimeira de Concertação Suprema,
poderão aprovar que os trabalhadores mais fiéis
a dar ao rabo atrás do dono, se reformem aos 99 anos.
Melhor, pelo seu elevado sentido de estar ao serviço
dos Superiores Interesses do Mercado,
no primeiro dia inútil da reforma,
serão agraciados com a comenda da Ordem de
qualquer coisa assim para estrumar os campos,
e quando morrerem, arcarão,
tão-somente, com 98% das despesas do funeral,
com pompa e circunstância, fanfarra e foguetes,
cabendo, em partes iguais,
ao Estado a que isto chegou e a um Fundo Fiduciário
dos Nababos & Ociosos Permanentes,
o pagamento dos 2%, em falta.
Como medida cautelar,
atentos à
Palavra do Senhor:
Mateus, 24: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de
uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu,
o Conselho de Administração
dos Detentores & Guardiães do Sistema,
aprova,
por maioria qualificada,
criar, de raiz, um Laboratório-Hospital
de Investigação Científica e Tecnológica,
do infinitamente grande ao infinitamente pequeno,
com os melhores cientistas, engenheiros e cirurgiões
das almas, especialistas em Teologia, Ontologia
e Metafísica, analistas da Transcendência
e anestesistas da Axiologia, da Ética, da Moral
e dos bons costumes,
para a descoberta, fabrico, comercialização
para a descoberta, fabrico, comercialização
e implantação, em tempo útil
(e a preço
de extrema-unção),
no bloco operatório das Altas Consciências,
por métodos não invasivos,
a cada uma das almas privadas
da classe de Cima,
de uma nano-bula sacramental
de perdão e remissão de todos os pecados
e que alargue o cu d'agulha para a vida eterna,
salvo-conduto prudencial de entrada triunfante
no Reino dos Céus.
*
Contra
as Supra Potestades,
agora e na hora,
Pim!
*
Contra
os Donos Disto Tudo,
e o mais que ditarão,
Pum!
Domingos da Mota