As vacas tresmalhadas pelo asfalto
da cidade, fazem fugir quem passa.
Amarelo... Vermelho! Um atravessa.
É apanhada, seco, dá um salto,
desentranha um mugido e, abatida,
põe nos olhos mansíssimos a vida.
Que pascigo escolheste, amável bicho?
Se não fora o olhar, já eras lixo.
Vaca malhada tresmalhada, vaca
de leite em sangue, atormentado nó
pulsando no asfalto, agora saca
dos missérrimos bofes o seu muuuu
derradeiro. Já sem dor ou protesto,
é da cidade a vaca mais um resto.
Alexandre O'Neill
POESIAS COMPLETAS, Assírio & Alvim, Lisboa, Maio de 2007
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