14.11.10

[Nada fica de nada. Nada somos]

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos. Nada.

Ricardo Reis

POEMAS DE FERNADO PESSOA, Selecção, prefácio e posfácio de Eduardo Lourenço, Edição Visão/JL, Fevereiro de 2006

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