Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
Fernando Assis Pacheco
Variações em Sousa, Posfácio por Gustavo Rubim, Angelus Novus, Coimbra
e Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2004
É por demais doloroso - e real.
ResponderEliminarExcelente texto!
Grato!
Caro Henrique Pimenta,
ResponderEliminarQue eu conheça, este é um dos mais belos poemas da nossa língua sobre o tema. Temos agora também o seu.
Obrigado.