1.1.11

AS PUTAS DA AVENIDA

Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena

vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena

essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena

mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena

Fernando Assis Pacheco

Variações em Sousa, Posfácio por Gustavo Rubim, Angelus Novus, Coimbra
e Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2004

2 comentários:

  1. É por demais doloroso - e real.

    Excelente texto!

    Grato!

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  2. Caro Henrique Pimenta,

    Que eu conheça, este é um dos mais belos poemas da nossa língua sobre o tema. Temos agora também o seu.
    Obrigado.

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