29.9.15

FRAGMENTOS

Escritor - homem casado?
Sempre escritor-de-domingo.
Não tem o momento azado,
sua arte é pingo a pingo.

Alexandre O'Neill

ANOS 70 poemas dispersos, Assírio & Alvim, Lisboa, Outubro 2005

23.7.15

Segunda figura

Será segunda figura
(ou figura de segunda)
a que perde a compostura
na diatribe iracunda,
se desbocada, sem tento
na língua diz disparates
e o faz com espavento
e amplifica os dislates
quando cita, sem rigor,
Simone de Beauvoir
e compara o clamor
dos que ousam protestar,
com os carrascos nazis -
esse libelo infeliz?


© Domingos da Mota


1.3.15

MÁ CONSCIÊNCIA

O adjectivo 
dá-me de comer.
Se não fora ele
o que houvera de ser?

Vivo de acrescentar às coisas
o que elas não são.
Mas é por cálculo,
não por ilusão.

Alexandre O'Neill

DE OMBRO NA OMBREIRA, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Setembro de 1969

10.2.15

DA VIOLÊNCIA

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.

Bertolt Brecht

Poemas, Tradução (com a colaboração de Sylvie Deswarte), Selecção, Estudos e Notas de Arnaldo Saraiva, Editorial Presença, Lisboa

8.1.15