25.4.13

ESQUERDIREITA

À esquerda da minoria da direita a maioria
do centro espia a minoria
da maioria de esquerda
pronta a somar-se a ela
para a minimizar
numa centrista maioria
mas a esquerda esquerda não deixa.
Está à espreita
de uma direita, a extrema,
que objectivamente é aliada
da extrema-esquerda.

Entretanto
extra-parlamentar (quase)
o Poder Popular
vai-se reactivar, se...

Das cúpulas (pfff!) nem vale a pena
falar, que hão-de
pular!

Quanto à maioria de esquerda
ficará - se ficar - para outro poema.

Alexandre O'Neill

ANOS 70 poemas dispersos, Assírio & Alvim, Lisboa, Outubro de 2005

24.4.13

Pequeno tratado sobre swaps

sinecuras
urdiduras
:swaps

 

tachos
cambalachos
:flops!

© Domingos da Mota

18.4.13

Império

Onde ele dizia descoberta, ela ouvia jugo. Onde
ele dizia civilização, ela ouvia barbárie.
Pilhagem, extorsão, estupro,
escravatura.
Terra queimada, a princípio,
lavrada, depois, com os ossos dos mortos.
Elas, mais dóceis, vomitavam do ventre
a fé e o medo, misturados no sangue
dos filhos mestiços.
Eles, mais rudes, sabiam que contrapor a força à força
talvez permitisse uma imitação da revolta.
Mas as coisas nunca coincidem com as palavras,
e raramente a carne com o punhal.


Madalena de Castro Campos

O FARDO DO HOMEM BRANCO, Edição Companhia das Ilhas, Lajes do Pico, Março de 2013

14.4.13

Sebo

De vez em quando os livros,
reduto agrário da memória
e da linguagem do fogo,
têm sorte, alguém aparece,
solitário bandeirante,
para salvá-los da morte,
da cega ruína
de suas girândolas e orelhas
na lixeira pública.

Paulo da Costa Domingos

[Poemas Abrasileirados, Lisboa &etc], in RESUMO a poesia em 2012, edição Documenta, Lisboa, Março 2013

6.4.13

OS BOTÕES

« - A pena de morte é a única solução para muitos casos. E o próprio juiz e o
júri é que carregam, todos ao mesmo tempo, nos botões e um deles liquida o
condenado».

Alexandre O'Neill

POESIAS COMPLETAS, Assírio & Alvim, Lisboa, Maio de 2007

3.4.13

a galope

vão-se embora palavras
deixem-me ali à esquina
amem e façam-se à vida
não temam a morte voem
sabem que não são minhas
para lá dessas fronteiras
que desapertam as rimas
com poemas ou bombas
fucem apanhem boleias
entre cometas e estradas
só vos deixei preparadas
para os cornos dos poetas
as músicas e as ânsias
que nos fazem ir às almas
fujam de aqui raparigas
há rapazes pelas esperas
de gerações filhos e feras
pelo meio de beijos e balas
cumpram de mãos acesas
esses silêncios essas iras
a que o tempo dá legendas
se uma língua forem todas

Joaquim Castro Caldas

MÁGOA DAS PEDRAS, Deriva Editores, Porto, Janeiro 2008