23.9.13

António Ramos Rosa (1924-2013)

POEMA

As palavras mais nuas
as mais tristes.
As palavras mais pobres
as que vejo
sangrando na sombra e nos meus olhos.

Que alegria elas sonham, que outro dia,
para que rostos brilham?

Procurei sempre um lugar
onde não respondessem,
onde as bocas falassem num murmúrio
quase feliz,
as palavras nuas que o silêncio veste.

Se reunissem
para uma alegria nova,
que o pequenino corpo
de miséria
respirasse ao ar livre,
a multidão dos pássaros escondidos,
a densidade das folhas, o silêncio
e um céu azul e fresco.

António Ramos Rosa

 O GRITO CLARO (selecção de poemas), [Segunda Parte], Colecção «A Palavra», n.º 1 Faro - 1958

1 comentário:

  1. Eu também gosto muito da poesia de ARR.
    Obrigado pela visita e pelo comentário.

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